O banco que chora

da série "Le temps qui passe" de Paulo S. Carvalho - Santarém 2005

Choro e não quero...

Tenho saudades dos Domingos soalheiros e dos namorados a falar baixinho.
Das crianças que correm agitadas, que espreitam nervosas.
Do chamar entusiasmado dos seus pais.
Das mãos sorrateiras dos amantes a deslizar sobre mim.

Ai, saudade! onde está a alegria agora?

Espera.! Os que eram meninos hoje voltaram.
Não... não trazem a alegria de outrora...

Mas... foram pais, foram avós...!
Não o entendo mas vêm agora sós.

Sentam-se...tristes!
Não porque o querem, não porque o possam evitar.

No chilrear dum pequeno pássaro contrariam a angústia da vida, rindo, mas por um instante. A solidão que torna com a fatalidade de uma maré, preenche-lhes com tristeza o espírito que esta já tão fraco tornou.

Chove!
Este é o pior dos dias. Este maldito tempo que me faz pensar...

2 comentários:

Anónimo disse...

Consegue fazer uma boa simbiose entre a forma e o fundo, a imagem e o texto, sem nenhum deles se minimizar. Como se o espaço que restringe a imagem se ampliasse e nessa superação ganhasse o sabor de um filme (nostálgico).

Anónimo disse...

Essa simbiose que falas Verónika, é o que mais me assusta. É por demais coerente. Como se houvesse um apagão, apesar do talento. É o mesmo clima interior de "Confortably Numb". O que quer isto dizer? De onde vêm as palavras? O coração do mundo ainda pulsa? O sol ainda nasce? Os homens ainda se entusiasmam? Mas talvez seja mera opção artística. Weeping Song parece ter outros pormenores. No reverso do pano, podes descobrir outras malhas. Mas nestas últimas parece que está tudo fechado, e a miúda não pode evitar as lágrimas mesmo como nos filmes.Então é porque talvez a ilusão esteja mesmo bem feita.

Não, mas é só impressão minha. Talvez ele esteja apenas a exorcizar a tristeza através da plena expressão da mesma.