Tradição

Paulo S. Carvalho - Monsaraz 2008

Paulo S. Carvalho - Monsaraz 2008

A tradição impôs-se hoje em Monsaraz. O novilho do festejo taurino foi morto na arena.

5 comentários:

Anónimo disse...

Lamento o caro preço que a tradição cobra. Mas a vida é assim mesmo. A felicidade de uns é infelicidade e a morte de outros.

Paulo S. Carvalho disse...

É verdade que os instintos aqui são primitivos e rudes.

No entanto não passa de um animal. Todos os dias viramos a cara a falta de dignidade e condição humana que fazem parecer estas barbáries brincadeiras de crianças. Ser indiferente também é ser cruel.

Foi a primeira vez que fui ao festejo de Monsaraz. O sacrifício do animal não é efectuado com "nobreza". Ao esconderem-se por trás do pano para efectuar o abate, a tarefa parece dificultada e prolonga a angústia de uma forma desnecessária. A angústia, acaba por invadir cada um de nós.

Anónimo disse...

Não quero entrar aqui com um grande discurso. Há que respeitar o espaço, talvez. Mas parece-me que os animais também sofrem. Convivo quase todos os dias com um animal doméstico por força de circunstâncias, e apercebo-me que tem estados de humor e que até a expressão e o brilho dos olhos muda.

Dói tanto o que nos conta! Oxalá que a nossa morte seja bem mais tranquila e que esse animal que existe em todos nós tenha o espaço certo para viver e que não seja motivo de gozo, indiferença e escárnio de ninguém. Não sou propriamente apologista da supressão do instinto nem da natureza selvagem em pró de uma vida "limpinha", "pura", "casta", "intelectual", mas toda a forma de domínio vinolento custa-me, dói-me. Desculpe mais uma vez a franqueza, mas mesmo os elogio que lhe faço também é porque sinceramente e espontaneamente os sinto. A tourada tem qualquer coisa que fascina. Essa dança entre o cavalo, o touro e o homem, essa coisa de machos, de sangue latino, parece interessante, mas depois o animal humilhado não dá gozo nenhum.

Mas além da crueldade da indiferença que refere, há este mesmo movimento no homem para com o homem. Basta vermos o que os chineses estão a fazer aos tibetanos

Somos tão felizes, afinal.Apesar deste vento agreste da vida, talvez ainda façamos parte de uma elite de privilegiados, sem mesmo termos que nos vender para sobreviver, com a liberdade de pensar e dançar ao som da música que queremos, mesmo com as pernas por vezes pesadas e as lágrimas a cair.

Um brinde, às coisas vivas!

Paulo S. Carvalho disse...

Sou a favor dos touros de morte, mas não assim.
Lidar um touro é enfrentar o mais recôndito dos medos e em certa medida, terá a sua nobreza.

Dê-se a vantagem ao touro e tenha-se a astúcia e arte para não ser colhido. Afinal é mais um momento igual a tantos outros dos dias da nossa vida.

Não é razoável embolar o touro, limitar-lhe as defesas. Não aplaudo que se humilhe. Vencer ou triunfar não tem que ser humilhar. Saiba-se quando parar.

Que se mate, mas em êxtase, do touro, do toureiro e de quem vê.

Por fim, o touro não agradecerá umas horas mais de vida passadas a caminho do matadouro.
Afinal qual é a diferença? Será que lá o touro deixa de ser animal e passa a ser carne?

Insensibilizado ou em êxtase? Morrer não é morrer? Dir-se-á que são mortes desnecessárias. Não o serão as provocadas pela gula?

Brindo também às coisas vivas. Principalmente e sobretudo às humanas.

Anónimo disse...

Para terminar, com toda a certeza que "enfrentar o mais recôndito dos medos" sem desviar os olhos e com genuíno heroísmo, terá brio e nobreza. De qualquer modo, coloco as minhas dúvidas relativamente ao êxtase do Touro no momento da morte. Mas isto é como tudo, quem está por dentro saberá melhor que eu e neste caso o Paulo está em melhor posição para falar.

De qualquer modo, acho esta sociedade muito cruel no que respeita à vida dos animais, mas simultaneamente muito totó em relação ao seu cãozinho.