Depois do terramoto que tudo desfez, uma nova vida desponta de peito erguido para o sol, sem nada a esconder, sem nada a temer. Haverá sempre uma Primavera. Neste vasto palco do mundo, a Primavera traz-nos sempre um número novo. É o triunfo da vida a trocar constantemente de máscara para se exibir de muitos modos, sempre renovados.
Gostaria de fazer uma parte II se me permitires, mas fica para mais tarde. Agora tenho que ir deitar sementes ao solo antes da noite cair. Não vá eu ficar perdida na floresta à noite por me ter ofuscado com miragens de dia.
Agora a bonequinha de corda, sem rosto, sem nome e sem idade (sem perfil) está quase a perder a corda. Mais uma volta ao redor destas imagens e … irá parar! Tem corda para mais dois comentários neste blog de acordo com o que lhe foi permitido, e depois a pista de gelo ficará aberta para aqueles que queiram fazer outros desenhos no gelo segundo o seu jeito particular de se moverem e girarem sobre patins. Não há tempo para estas coisas quando ainda se tem que estripar a vida para que ela nos dê o fôlego e a coragem suficientes para olhar de frente o que mais doí sem desviar os olhos.
III
Não sei se já te disse, mas gostei desta série de fotografias que nos mostras, "My Daugther and I" e " There’s no na interventionist God". Não consegui abrir "Não sei meus filhos que mundo será o vosso". Entrei através de "My Daughter and I" e achei-as uma delícia no seu conjunto, sem açúcar em demasia, claro, antes um ligeiro trave…(não sei explicar verbalmente o sabor, não me vem o termo certo). Como estava a dizer, achei-as uma delicia pela simplicidade certeira e os enquadramentos que fizeste, por aquela temperatura de luz que dá um deslizar natural, e o reforço quase poético das sombras em algumas delas, que fomentam alma e respiração e ao mesmo tempo o tal "negro" metafórico que pões nas coisas e que dá à luz uma fundura... (outro termo que me falta. É sempre o que mais gosto que não sei dizer!). A nível geral, poço mesmo dizer que gosto do teu traço por essa respiração natural que parece imprimires nas imagens, pelo espaço que abres sem que ainda assim, o mais pequeno se perca. Mesmo sendo quase sempre meio implicativa com planos muito picados, neste caso, até tenho gostado. Interessante e altamente revelador o titulo "My Daughter and I".É mesmo isso: Estamos sempre nas fotografias que tiramos, no que do mundo elegemos e na forma como o fazemos. Mais do que ver as imagem do mundo, umas das coisa que parece mais interessante é ver aquele que está invisivelmente visível na imagem. Igualmente belo, ainda assim, é a série "There´s no na interventionist God" no seu enfoque na deterioração, na queda a que todos os fenómenos se dão e que os teus olhos repararam com tanto... (outro termo que falta).Esta duas séries de imagens fazem um circulo no meu espírito e há sempre uma certa ambiguidade subtil entre o espírito e a letra, o fundo e a forma. Na verdade tenho um gozo enorme em sentir o pulsar das imagens. Até parece que a fotografia é mais interessante do que a vida no seu concreto onde sempre nos vamos desgastando no rio das palavras vãs e dos movimentos supérfluos e contínuos do quotidiano onde vamos com "Vicente e toda a gente" num sonho falhado e num esforço em última instância inglório.
"There’s no na interventionist God" para mim é "Já não é Primavera". Mas quanto a Deus, podemos falar talvez um dia num outro Inferno, ou quem sabe ter dele um vislumbre na fracção de segundo de um beijo fundo proibido antes de sermos devorados pelas feras que vêm sempre depois.
"Não sei meus filhos que mundo será o vosso" foi uma exposição minha em Lisboa no ano passado. A frase é de Jorge Sena e surgiu-lhe ao observar em pintura os fuzilamentos de Francisco Goya. Foi um projecto que surgiu por circunstância, não de alma. É um conjunto de dípticos. Um dia destes volto a mostrá-los.
"There's no an interventionist God" é uma consequência do querer saber mais de Goya.
"My daughter and I" é algo muito pessoal. Não sei se alguma vez vou falar disso.
As imagens têm que respirar e existir por si. Quanto mais falo mais as condiciono. Penso que fotografia não é mostrar tudo.
Quero que o observador entenda o "porque fotografei, o "porque mostro a imagem" e que a imagem não termine nas suas margens ou no seu conteúdo explícito.
4 comentários:
I
Depois do terramoto que tudo desfez, uma nova vida desponta de peito erguido para o sol, sem nada a esconder, sem nada a temer. Haverá sempre uma Primavera. Neste vasto palco do mundo, a Primavera traz-nos sempre um número novo. É o triunfo da vida a trocar constantemente de máscara para se exibir de muitos modos, sempre renovados.
Gostaria de fazer uma parte II se me permitires, mas fica para mais tarde. Agora tenho que ir deitar sementes ao solo antes da noite cair. Não vá eu ficar perdida na floresta à noite por me ter ofuscado com miragens de dia.
S.
Permissão concedida. Escreve tudo quanto quiseres.
II
Agora a bonequinha de corda, sem rosto, sem nome e sem idade (sem perfil) está quase a perder a corda. Mais uma volta ao redor destas imagens e … irá parar! Tem corda para mais dois comentários neste blog de acordo com o que lhe foi permitido, e depois a pista de gelo ficará aberta para aqueles que queiram fazer outros desenhos no gelo segundo o seu jeito particular de se moverem e girarem sobre patins. Não há tempo para estas coisas quando ainda se tem que estripar a vida para que ela nos dê o fôlego e a coragem suficientes para olhar de frente o que mais doí sem desviar os olhos.
III
Não sei se já te disse, mas gostei desta série de fotografias que nos mostras, "My Daugther and I" e " There’s no na interventionist God". Não consegui abrir "Não sei meus filhos que mundo será o vosso". Entrei através de "My Daughter and I" e achei-as uma delícia no seu conjunto, sem açúcar em demasia, claro, antes um ligeiro trave…(não sei explicar verbalmente o sabor, não me vem o termo certo). Como estava a dizer, achei-as uma delicia pela simplicidade certeira e os enquadramentos que fizeste, por aquela temperatura de luz que dá um deslizar natural, e o reforço quase poético das sombras em algumas delas, que fomentam alma e respiração e ao mesmo tempo o tal "negro" metafórico que pões nas coisas e que dá à luz uma fundura... (outro termo que me falta. É sempre o que mais gosto que não sei dizer!). A nível geral, poço mesmo dizer que gosto do teu traço por essa respiração natural que parece imprimires nas imagens, pelo espaço que abres sem que ainda assim, o mais pequeno se perca. Mesmo sendo quase sempre meio implicativa com planos muito picados, neste caso, até tenho gostado. Interessante e altamente revelador o titulo "My Daughter and I".É mesmo isso: Estamos sempre nas fotografias que tiramos, no que do mundo elegemos e na forma como o fazemos. Mais do que ver as imagem do mundo, umas das coisa que parece mais interessante é ver aquele que está invisivelmente visível na imagem. Igualmente belo, ainda assim, é a série "There´s no na interventionist God" no seu enfoque na deterioração, na queda a que todos os fenómenos se dão e que os teus olhos repararam com tanto... (outro termo que falta).Esta duas séries de imagens fazem um circulo no meu espírito e há sempre uma certa ambiguidade subtil entre o espírito e a letra, o fundo e a forma. Na verdade tenho um gozo enorme em sentir o pulsar das imagens. Até parece que a fotografia é mais interessante do que a vida no seu concreto onde sempre nos vamos desgastando no rio das palavras vãs e dos movimentos supérfluos e contínuos do quotidiano onde vamos com "Vicente e toda a gente" num sonho falhado e num esforço em última instância inglório.
"There’s no na interventionist God" para mim é "Já não é Primavera". Mas quanto a Deus, podemos falar talvez um dia num outro Inferno, ou quem sabe ter dele um vislumbre na fracção de segundo de um beijo fundo proibido antes de sermos devorados pelas feras que vêm sempre depois.
S.
"Não sei meus filhos que mundo será o vosso" foi uma exposição minha em Lisboa no ano passado. A frase é de Jorge Sena e surgiu-lhe ao observar em pintura os fuzilamentos de Francisco Goya.
Foi um projecto que surgiu por circunstância, não de alma. É um conjunto de dípticos. Um dia destes volto a mostrá-los.
"There's no an interventionist God" é uma consequência do querer saber mais de Goya.
"My daughter and I" é algo muito pessoal. Não sei se alguma vez vou falar disso.
As imagens têm que respirar e existir por si. Quanto mais falo mais as condiciono. Penso que fotografia não é mostrar tudo.
Quero que o observador entenda o "porque fotografei, o "porque mostro a imagem" e que a imagem não termine nas suas margens ou no seu conteúdo explícito.
Mas, em verdade, sou um aprendiz.
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