Há mais.

Paulo S. Carvalho

5 comentários:

Anónimo disse...

...

Anónimo disse...

Tens sempre coisas na manga! Como é que consegues não ser monótono aos meus olhos?Aprofundas as coisas e não as largas assim ao superficial.

Talvez a viagem não tenha fim e talvez não haja lugar nenhum onde chegar. Se assim é, bebe o espaço, flutua no silêncio.Já não é Primavera. É talvez uma estação diferente.

Anónimo disse...

nice

Anónimo disse...

Foi em Novembro, na altura em que toda a natureza se silenciava, mês do aniversário de Pascoais e dos mortos, ou dos seus sepulcros, aos quais ainda inutilmente se lavam flores, que ela mais uma vez caminhou em direcção à casa no interior da floresta fascinada por uma qualquer sensação de intimidade e abismo. Nunca a porta esteve trancada, mas desta vez nem mesmo tinha manipulo nem fechadura e estava semiaberta dando-se num jeito frouxo de abandono à modalidade do vento. Quando entrou, já nada era como antes. Não sentia mais indícios de vida. Já não havia restos de brasas acesas, nem o cheiro a café, a cadeira onde habitualmente se sentava já não estava quente, havia capas de CD’s de Nick Cave espalhadas, mas parecia não fazer mais sentido ouvir. O pó tinha-se acumulado ainda mais, de modo a proporcionar deixar coisas escritas nos móveis, mas já não fazia sentido porque já ninguém ia ver. A porta com @ no piso superior, com uma fechadura tentadora em formato de caixa de Pandora, onde supostamente um dia ele pareceu estar, encontrava-se escancarada e já não dava para colar o ouvido junto à porta para sentir a respiração ou o barulho de um gesto que enchia o coração de sobressalto. Olhou mais umas vezes em redor:"The Weeping Song","My Daughter and I", "There's no an Interventionist God", "Tauro", "Confortably Numb"... Observou pela última vez os retratos ,agora tombados e cheios de pó. Um deles era o Auto-retrato, aquele ar de peso de uma densidade que não quer resistir à força de gravidade que o afunda e simultaneamente todo o contraste do fundo, a translucidez do espelho, do céu azul límpido que nele se espelha, a Fujia Gw90 com Ektachrom provavelmente, a reforçar o encanto que a gravidade acaba por não destruir. O outro era o do menino da viagem meio enigmático a viver dentro de si e a acordar a sensação da grande viagem sem fim. Por fim, o da Princesa de olhos de diamante, leve, de nome Maria, um nome de todos os começos. Depois disto, dirigiu-se à porta de saída. Um sol de Outono resplandecia no céu, banhando a floresta de uma luz suave e tudo parecia flutuar sem drama. Com ela levava as lágrimas dentro de um copo para as deitar no oceano. Seguiu as pegadas de um esquilo que talvez a vá conduzir a uma nova Primavera onde os olhares ainda são virgens e contagiantes e têm a força das nascentes, num continente distante sem se saber ao certo se algum dia o alcança antes de ser surpreendida pela morte mas onde dizem que se dança desde o nascer do sol até a noite cair, e se adormece para depois recuperar forças para voltar a dançar o dia inteiro com "El Duende" na bebedeira desses olhares que se cruzam, incandescentes, onde se perde pé da realidade.

A casa da floresta é agora passado, foi apagada dos "favoritos" e fica como contos e ficções.

"Sim: a grande tragédia é este beijo incandescente nesses lábios congelados" ( Teixeira de Pascoais). Ainda assim, é tudo tremendamente belo, sendo a liberdade interior, genuína, o melhor dos orgasmos.

Anónimo disse...

Vitória, Vitória,...acabou-se a história!